• ISSN (On-line) 2965-1980

Artigo

Acesso livre Revisado por pares

0

Visualizações

Radiologia Pediátrica

LIPOMA INTRACRANIANO: UMA CAUSA RARA DE CEFALEIA

Augusto Sarquis Serpa 1, Larissa de Andrade defendi 2, Gabriel Nunes Rocha 3, Soraya Silveira Monteiro 4

Resumo

Neste relato apresentamos um caso de lipoma intracraniano, uma malformação congênita rara, cujo principal sintoma é a cefaleia e que frequentemente associa-se a outras malformações do Sistema Nervoso Central. Apesar dos achados serem bastante característicos, este é um diagnóstico frequentemente esquecido por radiologistas, e que deve ser levantado ao serem observados os achados de imagem típicos nos exames de Tomografia Computadorizada e/ou Ressonância Magnética.

Dados do caso

Feminino, 7 anos.

Palavras chaves

Lipoma, Neoplasias do Sistema Nervoso Central, Cefaleia.

Histórico Clínico

Paciente do sexo feminino, com antecedente de prematuridade e anóxia perinatal, além de Síndrome Genética a esclarecer. Realizou Ressonância Magnética (RM) de crânio aos sete anos de idade por atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, hipertonia dos membros inferiores e cefaleia diária, que evidenciou lesão na fissura inter-hemisférica, além de sinais de disgenesia do corpo caloso.

Achados Radiológicos

Corte sagital do crânio demonstra lesão cranial ao corpo caloso (seta), com hipersinal em T1 (Figura 1). A lesão situa-se na fissura inter-hemisférica (seta), e também apresenta hipersinal em T2 (Figura 2). No FLAIR, mantém-se o hipersinal (seta), notando-se ainda paralelismo dos ventrículos laterais (estrelas), achado compatível com disgenesia do corpo caloso. (Figura 3).

Discussão

Lipomas intracranianos são malformações congênitas raras, correspondendo entre 0,1 a 0,5% de todos os tumores benignos.[1] Resultam da persistência anormal e má diferenciação da meninge primitiva.[2] Geralmente constituem um achado incidental e estão associados a outras anomalias congênitas.[2] A localização mais frequente é a inter-hemisférica (56% - geralmente pericalosa) e a anomalia mais comum é a disgenesia/agenesia do corpo caloso.[2] Os lipomas pericalosos são subdivididos em dois tipos: o tubulonodular, caracterizado por uma massa de localização anterior ou posterior e frequentemente associado a malformações, e o tipo curvilíneo que apresenta uma forma fina, longa, de localização posterior.[1] O quadro clínico costuma ser assintomático. Dependendo da localização e do tamanho, podem cursar com cefaléia, crise convulsiva, paralisia, retardo mental ou sintomas relacionados à compressão de estruturas próximas, provocando déficits focais.[2] As imagens são bastante específicas na Tomografia Computadorizada (TC) e na RM, dispensando na maioria dos casos a necessidade de biópsia.[2] Na TC, observa-se lesões bem circunscritas e hipoatenuantes, sem realce pelo meio de contraste e sem edema perilesional.[2] Já a RM, mais acurada que a TC, demonstra lesão com hipersinal em T1 e T2,[3] sem realce pelo meio de contraste e cujo sinal é suprimido nas sequências de supressão da gordura.[2] O tratamento costuma ser conservador.[3] A ressecção cirúrgica resulta em alta morbidade e mortalidade devido à alta vascularização e à aderência aos tecidos neurais circundantes dos lipomas intracranianos.[2] A paciente do nosso caso apresentava um caso típico de lipoma intracraniano - pericaloso, associado a disgenesia do corpo caloso, que cursava com cefaleia e com achados de imagem característicos.

Lista de Diferenciais

  • Tumor dermoide
  • Teratoma

Diagnóstico

  • Lipoma intracraniano

Aprendizado

O lipoma intracraniano é uma condição rara e muitas vezes assintomática ou oligossintomática, sendo descoberta de forma acidental. É importante que o radiologista conheça seu aspecto clássico nos exames de imagem, pois o diagnóstico pode ser feito sem necessidade de biópsia. Ademais, é fundamental que se conheça a associação com malformações congênitas, que devem ser investigadas de forma exaustiva nesses casos.

Referências

Yadav A, Kumar J. Pericallosal lipoma in children: a rare case. Case Reports 2018;2018:bcr-2017-223989.
Pereira CU, Silveira ACA, Barreto AS, Britto AVO, Barbosa BJAP. Lipoma intracraniano - Revisão da literatura. Arq Bras Neurocir 2013;32(2):98-104.
Bilir O, Yavasi O, Ersunan G, Kayayurt K, Durakoglugil T. Incidental Finding in a Headache Patient: Intracranial Lipoma. West J Emerg Med 2014;15(4):361-2.

Imagens


Figura 1: Corte sagital do crânio ponderado em T1 demonstra lesão cranial ao corpo caloso (seta), com hipersinal.


Figura 2: Corte coronal ponderado em T2 demontra que a lesão situa-se na fissura inter-hemisférica (seta), e também apresenta hipersinal nessa ponderação.


Figura 3: Corte axial demontra que, no FLAIR, mantém-se o hipersinal (seta), notando-se ainda paralelismo dos ventrículos laterais (estrelas), achado compatível com disgenesia do corpo caloso.

Artigo recebido em domingo, 17 de abril de 2022

CCBY Todos os artigos científicos publicados em brad.org.br são licenciados sob uma licença Creative Commons.

All rights reserved 2022 / © 2024 Bradcases DESENVOLVIDO POR