• ISSN (On-line) 2965-1980

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Genital (Female)

LIPOLEIOMIOMA UTERINO: ASPECTOS ULTRASSONOGRÁFICOS.

Jorge Gilberto Castro do Valle Filho 1, Jorge Gilberto Castro do Valle Filho 2, Larissa Bregalda 3

Abstract

O lipoleiomioma é um tumor uterino extremamente raro e benigno. Ocorre, via de regra, em mulheres na pós-menopausa. Usualmente são assintomáticos, mas podem promover sinais e sintomas conforme o seu tamanho e localização. A Ultrassonografia (US), a Tomografia Computadorizada (TC) e a Ressonância Magnética (RM) são úteis em seu diagnóstico, o qual é corroborado pela histopatologia. Conhecer as suas características imaginológicas auxiliar-nos-á na redução de intervenções cirúrgicas desnecessárias.

Dados do caso

Feminino, 71 anos.

Palavras chaves

Menopausa, Neoplasias Uterinas, Tumor de Músculo Liso, Ultrassonografia.

Histórico Clínico

- Paciente feminina, branca, 71 anos, G2P2A0, menopausa há 20 anos. - Iniciou com desconforto abdominal há 4 meses. Os últimos exames de rotina ginecológica foram realizados há cerca de 5 anos. - Exame físico: sem particularidades. - Foi solicitada ultrassonografia transvaginal, a qual evidenciou formação expansiva sólida uterina (figura 1). - A paciente optou pela remoção da lesão através da histerectomia total. - A amostra pós-histerectomia revelou, à microscopia, fascículos de músculo liso entrelaçados com lóbulos de adipócitos, confirmando o diagnóstico de lipoleiomioma.

Achados Radiológicos

A ultrassonografia pélvica transvaginal evidenciou formação expansiva sólida, marcadamente hiperecogênica, ovalada, com margens regulares e bem definidas, fino halo hipoecoico periférico incompleto, leve sombra acústica posterior (Figura 2), medindo em torno de 1,8 x 1,0 x 1,6 cm (Figura 3), sem vascularização passível de detecção ao Doppler colorido e de amplitude (Figura 4), localizada em topografia intramural da parede posterior (FIGO/MUSA 4). O aspecto intensamente hiperecoico característico e a sombra acústica posterior suave permitem um rápido reconhecimento da lesão ao método ultrassonográfico (Vídeo 1).

Discussão

Os tumores uterinos lipomatosos são neoplasias benignas raras que surgem mais comumente em mulheres na pós-menopausa e podem ser equivocadamente confundidos com miomas uterinos (leiomiomas) à ultrassonografia. [1] Essas massas gordurosas são categorizadas em três grupos diferentes: lipoma puro, lipoma com elementos de mesoderme e lipossarcoma. O lipoleiomioma é uma variante única rara do segundo grupo de tumores lipomatosos, com uma incidência relatada em torno de 0,03 a 0,2%. [1][2] Histologicamente, essas lesões consistem em quantidades variáveis de adipócitos com músculo liso e tecido fibroso. Embora a patogênese desses tumores permaneça obscura, estudos imuno-histoquímicos sugerem algumas possíveis origens, como (1) da transformação do músculo liso em tecido adiposo maduro, (2) de células adiposas embrionárias ou (3) de células mesenquimatosas ectópicas. [1-5] A sua transformação maligna é extremamente rara. Alguns autores defendem que, nos casos incomuns de leiomiossarcomas uterinos concomitantes com lesões lipomatosas, não está provado que a malignização decorra da degeneração da lesão lipomatosa. [3] Independentemente da origem, a maioria está localizada no corpo uterino e, geralmente, é intramural. [5] Dos casos relatados, predominam os assintomáticos. Nas pacientes sintomáticas, as queixas estão frequentemente relacionadas ao tamanho e à localização da lesão, variando desde dor abdominal e pélvica, massa palpável e anormalidades menstruais, até sintomas secundários à pressão mecânica em órgãos adjacentes como disúria, urgência miccional, obstrução uretral ou ureteral, dispareunia ou obstrução do colo uterino. [1][3][5] A suspeição diagnóstica pode ser feita pela Ultrassonografia, TC e RM. [1][3][4] Ecograficamente, o lipoleiomioma revela-se como uma formação expansiva hiperecogênica, bem delimitada, rodeada por um halo hipoecogênico, o qual representa o miométrio que circunda a massa lipomatosa. Esta aparência ecográfica é característica, mas não é específica do lipoleiomioma. Assim, a ecografia isoladamente pode não ser suficiente para o diagnóstico, visto que estas lesões podem mimetizar outros tumores uterinos malignos, ou mesmo ovarianos. Diferenciar lipoleiomioma, por exemplo, de teratoma ovariano cístico, tumor gorduroso mais comum da pelve feminina, é fundamental, considerando o fato de seus manejos serem distintos, contribuindo para reduzir as intervenções cirúrgicas desnecessárias.[1][3]

Lista de Diferenciais

  • Lipoma
  • Leiomioma
  • Angiomiolipoma
  • Fibromiolipoma
  • Mielolipoma
  • Lipossarcoma
  • Teratoma Maduro Ovariano

Diagnóstico

  • Lipoleiomioma

Aprendizado

Pretendemos chamar a atenção para o lipoleiomioma uterino, uma das neoplasias benignas mais raras do útero. Esses tumores gordurosos têm aspectos característicos à ultrassonografia e, geralmente, não são nocivos. No entanto, existe o potencial de equívoco diagnóstico com outros tumores uterinos e ovarianos. Portanto, ter conhecimento sobre o lipoleiomioma, suas características de imagem e apresentação clínica podem ajudar a evitar cirurgias desnecessárias em pacientes assintomáticas.

Referências

Rasmussen T, Sanchirico P, Pfeiffer D. Uterine Lipoleiomyoma in the Context of Adenocarcinoma. J Clin Imaging Sci. 2020;10:82. Published 2020 Dec 18. doi:10.25259/JCIS_204_2020
Karikalan B, Pasupathi T. Lipoleiomyoma of the uterus. Indian J Pathol Microbiol 2017;60:128-9
Carnide C, Raposo J, Rodrigues C, Geraldes F. Lipoleiomioma Uterino. Acta Obstet Ginecol Port; 2011;5(3):148-152
Gupta R, Kumar A, Thukral B, Agrawal S. Cervical Lipoleiomyoma: A rare variant of uterine leiomyoma. Eurorad. https://www.eurorad.org/case/16919. Published 2020. Accessed July 3, 2021.
Sudhamani S, Agrawal D, Pandit A, Kiri VM. Lipoleiomyoma of uterus: a case report with review of literature. Indian J Pathol Microbiol. 2010;53(4):840-841. doi:10.4103/0377-4929.72075

Imagens


Figura 1. Ultrassonografia transvaginal: a imagem em plano sagital demonstra nódulo uterino sólido intramural (seta laranja), bem delimitado. O componente lipomatoso do lipoleiomioma revela-se por marcada hiperecogenicidade. A imagem é circundada por um fino halo hipoecogênico, o qual representa o miométrio que rodeia a massa lipomatosa.


Figura 2. Ultrassonografia transvaginal em planos sagital e transversal: é possível identificar a sombra acústica posterior característica do lipoleiomioma.


Figura 3. Ultrassonografia transvaginal em planos sagital e transversal: a aferição adequada das medidas é possível devido ao alto contraste entre o miométrio e a lesão, bem como à identificação dos planos de clivagem.

Vídeos


Vídeo 1. A marcada hiperecogenicidade do lipoleiomioma em contraste com a baixa ecogenicidade miometrial criam um ambiente de alto contraste e fácil identificação desta lesão rara e benigna. Quando atinge grandes dimensões e localização subserosa, pode ser facilmente confundida com Teratoma ovariano.

Article receive on Thursday, July 1, 2021

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