• ISSN (On-line) 2965-1980

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Tórax

RELATO DE CASO: DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE COVID 19 E ATRESIA BRÔNQUICA CONGÊNITA

Aline Magalhães Rodrigues 1, Tamires Hortêncio Alvarenga 2, Luis Ronan M F de Souza 3, Gesner Pereira Lopes 4

Resumo

Paciente do sexo masculino, 30 anos procurou pronto atendimento com dor no peito há 1 mês, que se intensificou há 1 semana. Suspeitou-se inicialmente de infecção por COVID-19 devido surto de casos na localidade. O paciente foi submetido a tomografia computadorizada de tórax sem contraste sem achados relacionados à infecção viral aguda mas compatível com atresia brônquica congênita, condição congênita pouco frequente, geralmente um achado incidental, em que a luz brônquica está obstruída.

Dados do caso

Masculino, 30 anos.

Palavras chaves

Atresia Pulmonar, Infecções por Coronavirus, Anormalidades Congênitas, Tomografia.

Histórico Clínico

Paciente do sexo masculino, 30 anos, sem queixa tosse ou febre, procurou pronto atendimento com dor no peito há 1 mês que se intensificou há 1 semana. Suspeitou-se inicialmente de infecção por COVID-19 devido ao fato de o episódio ter ocorrido durante a surto de casos na localidade. O paciente foi submetido a uma tomografia computadorizada (TC) de tórax sem contraste que evidenciou padrões de imagem compatíveis com atresia brônquica congênita, sem achados relacionados à infecção viral aguda.

Achados Radiológicos

A tomografia computadorizada de tórax, sem contraste, foi realizada em equipamento de 16 canais, nos planos coronal (figura 1), sagital (figura 2) e axial (figura 3). Evidenciou-se uma hipertransparência expansiva associado à redução vascular e imagens nodulares arredondadas e ramificadas no lobo superior direito. Os demais segmentos pulmonares apresentavam coeficiente de atenuação normal. A porção terminal do brônquio segmentar súpero-posterior possuía opacidade ovalada e o parênquima adjacente apresentava-se hipoatenuante quando comparado ao seu entorno. Também era possível ainda visualizar a rarefação (menor densidade) do conteúdo vascular que supre essa mesma área; isto é, uma oligoemia local. A área de hiperinsuflação peribrônquica combinada com a presença de mucocele e obstrução da via aérea proximalmente a esse ponto sugerem fortemente o diagnóstico de atresia brônquica.

Discussão

A atresia brônquica é uma condição congênita e pouco frequente em que a luz brônquica é obstruída, interrompendo sua comunicação com a árvore pulmonar central. Em alguns casos, a atresia brônquica pode ser adquirida após o nascimento devido a um insulto traumático e, em outros, após um quadro inflamatório do brônquio. Os segmentos distais à obliteração brônquica são ventilados por meio de vias aéreas constituídas pelos canais colaterais (poros de Kohn, canais de Lambert e canais de Martin) [1]. Desse modo, o parênquima pulmonar dessas porções não é atelectásico, mas enfisematoso, ou seja, há hipoatenuação ou hipertransparência do parênquima conectado ao segmento atrésico. Esse aspecto mostra-se mais evidente durante a expiração, momento do ciclo respiratório em que as vias aéreas são menos eficientes em manter o fluxo pelos segmentos acometidos. Seguindo a sequência desencadeada pelos mecanismos fisiológicos que operam nesse sistema, o espaço não ventilado diretamente torna-se também hipovascularizado, levando à hipoatenuação das marcas vasculares (oligoemia) nas imagens obtidas desses pacientes. Por outro lado, o fato de as glândulas submucosas e as células de “Globet” distais ao ponto de obstrução continuarem a secretar seus produtos [1] viabiliza a impactação mucoide e a dilatação progressiva dos brônquios atrésicos com a formação de broncocele. Essa patologia é mais frequentemente observada em lobos superiores, sendo a lateralidade das lesões variável entre as amostras utilizadas por diferentes estudos. No entanto, o acometimento tende a ser unilateral em quase todos os casos, com predomínio de mucoceles ramificadas, de forma ovalada/arredondada e que apresentam conteúdo líquido [2]. No geral é uma condição assintomática, sendo, em mais de 50% dos casos, um achado incidental já na idade adulta [3]. Mas, quando os sintomas estão presentes, estes são inespecíficos e consistem em episódios recorrentes de tosse, taquipneia e dispneia, manifestando-se comumente logo no início da vida [4,5].

Lista de Diferenciais

  • Covid-19
  • Seqüestro pulmonar
  • Síndrome de Swyer James e McLeod
  • Enfisema infantil
  • Neoplasia
  • Doença granulomatosa
  • Aspiração de corpo estranho
  • Broncolitíase
  • Embolia pulmonar
  • Aspergilose broncopulmonar alérgica
  • Cisto broncogênico

Diagnóstico

  • Atresia brônquica congênita.

Aprendizado

A Atresia Brônquica Congênita geralmente se apresenta assintomática, mas sintomas respiratórios, associados ou não à infecções, podem estar presentes e serem confundidos com outros diagnósticos diferenciais, tais como Covid-19 em meio a pandemia de Sars-Cov-2. O diagnóstico e acompanhamento do desenvolvimento é feito com a Tomografia Computadorizada de tórax com a identificação de impactação mucoide, associada à presença de oligoemia local e hiperinsuflação do parênquima pulmonar adjacente.

Referências

1. Neu AS, Menezes RE, Ilha DO, Maciel AC, Castro RFP. Aspectos radiológicos da atresia brônquica: relato de três casos e revisão da literatura. Radiologia Brasileira 2003; 36(1): 47-51.
2. Di Puglia EBM, Rodrigues RS, Daltro PA, et al. Tomographic findings in bronchial atresia. Radiologia Brasileira 2021; 54(1):9-14.
3. Berrocal T, Madrid C, Novo S, Gutiérrez J, Arjonilla A, Gómez-León N. Congenital Anomalies of the Tracheobronchial Tree, Lung, and Mediastinum: embryology, radiology, and pathology. Radiographics 2004; 24(1):e17-e17
4. Cáceres J, Mata J, Palmer J, Zidan A, Donoso L. General case of the day: Congenital bronchial atresia. Radiographics 1991; 11(6): 1143-1145.
5. Faure ACM, Barreto APA, Pereira CAC, Silva COS. Atresia brônquica congênita: relato de dois casos. Contribuição da tomografia computadorizada ao diagnóstico. Jornal de Pneumologia 2000; 26(3): 142-144.

Imagens


Figura 1. TC do tórax, sem contraste, corte coronal, se observa a área de hipodensidade no lobo superior direito (hipertransparência expansiva) associadas à redução vascular e imagens nodulares arredondadas e ramificadas, com densidade homogênea.


Figura 2. TC do tórax sem contraste, corte sagital, onde se caracteriza melhor a hipertransparência do lobo superior direito.


Figura 3. TC do tórax, sem contraste, corte axial, janela de mediastino. É possível caracterizar a presença da mucocele e obstrução da via aérea (entre setas).

Artigo recebido em terça-feira, 9 de março de 2021

Artigo aprovado em quarta-feira, 11 de agosto de 2021

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