• ISSN (On-line) 2965-1980

Artigo

Acesso livre Revisado por pares

0

Visualizações

Tórax

CRIPTOCOCOSE SIMULANDO NEOPLASIA PULMONAR

Allan Max Silva Cardoso 1, Luís Ronan Marquez Ferreira de Souza 2, Jessé Marcos de Oliveira 3, Bruno doriguetto Couto Ferreira 4

Resumo

Criptococose é uma infecção sistêmica causada por fungos Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii, afetando principalmente os pulmões e o sistema nervoso central. O caso a seguir exemplifica a afecção desses e de outros sistemas e demonstra a relevância dessa lesão no diagnóstico diferencial de massas pulmonares.

Dados do caso

Feminino, 22 anos.

Palavras chaves

Criptococose, Pneumopatias Fúngicas, Radiografia Pulmonar de Massa.

Histórico Clínico

Paciente de 22 anos, feminino, gestante (G4P2N2A1), encaminhada de outro serviço com queixa de dor torácica a esquerda, com uma semana de evolução, que irradiava para região torácica posterior, ventilatório-dependente, associada a dispneia. Ao exame referiu manutenção de dor com exacerbação à inspiração profunda. Negou tosse, febre ou mialgia. Apresentava exames de rotina da gestação e sorologias sem alterações. Após identificação de lesão torácica primeiramente à radiografia, com confirmação pela tomografia, foi submetida a biópsia de tórax e posteriormente a punção liquórica que determinaram o diagnóstico de criptococose disseminada por Cryptococcus neoformans.

Achados Radiológicos

A paciente deu entrada no serviço com radiografia de tórax (Figura 1), que constatou massa no terço médio/superior do hemitórax esquerdo. Foi então indicada tomografia que demonstrou melhor os limites da lesão (Figuras 2 e 3), com densidade de partes moles, e identificou ainda lesão osteolítica no úmero direito (Figura 4). A paciente evoluiu com cefaleia, sendo submetida a ressonância magnética do crânio que identificou lesões focais no lobo frontal (Figura 5), cápsula interna e núcleos da base à direita (Figura 6).

Discussão

Criptococose é uma infecção sistêmica causada por fungos Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii, patógenos encontrados no solo, especialmente o que contem fezes de pombos, e em oco de árvores. Os dois patógenos principais apresentam diferenças quanto à população afetada e aos padrões de acometimento. O Cryptococcus gattii acomete indivíduos imunocompetentes formando massas inflamatórias (criptococomas) e, embora seja menos comum e com menor letalidade, em muitos casos causa sequela neurológica que requer cirurgia e terapia antifúngica prolongada [1]. Já o Cryptococcus neoformans afeta mais frequentemente pacientes imunodeprimidos, acompanhando a epidemia da AIDS [2,3,4]. Afeta principalmente os pulmões e o sistema nervoso central, podendo ainda acometer pele, próstata, olhos, ossos, trato urinário e sangue [2,5]. Nos pulmões os principais achados são de massas e nódulos pulmonares [6], enquanto no sistema nervoso central se destaca a presença de realce paquimeníngeo e leptomeníngeo, assim como dilatação dos espaços perivasculares, sendo nódulos miliares, plexite e ventriculite também encontrados, embora mais raros [7]. Devido a essas formas de apresentação, a criptococose pode muitas vezes simular malignidade, como já descrito na literatura [8,9,10], salientando a importância da história clínica para a formulação de hipóteses diagnósticas no laudo radiológico.

Lista de Diferenciais

  • Neoplasia primária do pulmão
  • Metástase pulmonar
  • Aspergilose

Diagnóstico

  • Criptococose disseminada

Aprendizado

Deve-se lembrar da criptococose bem como de outras infecções fúngicas no diagnóstico diferencial de massas pulmonares, especialmente em pacientes jovens, com ou sem comorbidades.

Referências

1- Speed B, Dunt D. Clinical and host differences between infections with the two varieties of Cryptococcus neoformans. Clin Infect Dis. 1995;21(1):28-34; discussion 35-6.
2- Pasqualotto AC, Bittencourt Severo C, de Mattos Oliveira F, Severo LC. Cryptococcemia. An analysis of 28 cases with emphasis on the clinical outcome and its etiologic agent. Rev Iberoam Micol. 2004;21(3):143-6.
3- Chayakulkeeree M, Perfect JR. Cryptococcosis. Infect Dis Clin North Am. 2006;20(3):507-44, v-vi.
4- Soares EA. Mortalidade por criptococose no Brasil (2000 a 2012) [Tese]. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca; 2015. 95 pp.
5- Severo CB, Gazzoni AF, Severo LC. Chapter 3 - Pulmonary cryptococcosis. J Bras Pneumol. 2009;35(11):1136-1144
6- SILVA, Ana Carina Gamboa da et al . Criptococose pulmonar: aspectos na tomografia computadorizada. Radiol Bras. 2003; 36(5): 277-282.
7- DUARTE, Stenio Bruno Leal et al . Magnetic resonance imaging findings in central nervous system cryptococcosis: comparison between immunocompetent and immunocompromised patients. Radiol Bras. 2017; 50(6): 359-365.
8- Oliveira Fde M, Severo CB, Guazzelli LS, Severo LC. Cryptococcus gattii fungemia: report of a case with lung and brain lesions mimicking radiological features of malignancy. Rev Inst Med Trop Sao Paulo. 2007;49(4):263-5.
9- Kim YS, Lee IH, Kim HS, et al. Pulmonary cryptococcosis mimicking primary lung cancer with multiple lung metastases. Tuberc Respir Dis (Seoul). 2012;73(3):182-186. doi:10.4046/trd.2012.73.3.182
10- Hamerschlak N, Pasternak J, Wagner J, Perini GF. Not all that shines is cancer: pulmonary cryptococcosis mimicking lymphoma in [(18)] F fluoro-2-deoxy-D-glucose positron emission tomography. Einstein (Sao Paulo) 2012;10:502–504.

Imagens


Figura 1: Radiografia de tórax demonstrando massa pulmonar de limites parcialmente definidos no terço médio/superior do hemitórax direito.


Figura 2: Tomografia de tórax (janela pulmonar) evidenciando massa sólida periférica centrada no segmento anterior do lobo superior esquerdo, estendendo-se à bifurcação do brônquio principal esquerdo.


Figura 3: Tomografia de tórax (janela de partes moles), mostrando contato da lesão com a pleural costal e realce heterogêneo da lesão.


Figura 4: Tomografia de tórax (janela de partes moles), identificando lesão osteolítica a cabeça umeral direita com extensão para a diáfise, com pontos de afilamento da cortical (setas).


Figura 5: Ressonância magnética do crânio (FLAIR) demonstrando lesões de limites parcialmente definidos, que apresentam hipersinal, localizadas na cápsula interna e núcleos da base à direita.


Figura 6: Ressonância magnética do crânio (FLAIR) demonstrando lesão hiperintensa, semelhante às anteriores, no giro frontal superior direito.

Artigo recebido em quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Artigo aprovado em sábado, 5 de dezembro de 2020

CCBY Todos os artigos científicos publicados em brad.org.br são licenciados sob uma licença Creative Commons.

All rights reserved 2022 / © 2024 Bradcases DESENVOLVIDO POR