Letícia Tomaz Oliveira1; Graziela Campos Oliveira2; Carla Cristina Teixeira Polimeni Benetti1; Aline Campos Oliveira Mello2
DOI: 10.5935/2965-1980.2024v3e20240021
DESCRIÇÃO DOS CASOS CLÍNICOS:
1) Feminino, 56 anos, com diagnóstico de tumor neuroendócrino de intestino delgado, apresentou nódulos circunscritos emambas as mamas e linfonodo axilar atípico à esquerda,hipercaptantes ao estudo com PET DOTA-68Ga. 2) Feminino, 63 anos, com diagnóstico de tumor carcinoide atípico pulmonar,apresentou nódulo indistinto na mama esquerda no seguimento.
ACHADOS DE IMAGEM
Paciente 1 apresentou, à ultrassonografia, dois nódulos hipoecoicos, ovais e circunscritos, no quadrante superior lateral de ambas as mamas, com fluxo vascular ao Doppler colorido e um linfonodo atípico na axila esquerda, nível I (Figuras 1 e 2). Os achados não eram observados nos exames prévios. Ao estudo PET com análogo de somatostatina, todas as lesões descritas apresentaram-se hipercaptantes, inferindo tecido neoplásico viável de linhagem neuroendócrina bem diferenciada (Figura 3). A biópsia confirmou o achado de metástase de tumor neuroendócrino para mama e axila. Paciente 2 apresentou nódulo isodenso, oval e com margens indistintas no seguimento mamográfico (Figuras 4A e 4B), com correlação ecográfica (figura 5A). O nódulo não apresentava fluxo vascular significativo ao Doppler colorido (Figura 5B). Ao estudo com PET-FDG, a lesão não demonstrou concentração significativa do radiofármaco (Figura 6). A biópsia confirmou o achado de metástase de tumor neuroendócrino para mama.
DISCUSSÃO
As metástases para a mama correspondem a menos de 1% das lesões malignas e, dentre essas, as originárias de tumores neuroendócrinos (TNE) envolvem apenas 0,5 a 1% dos casos [1,2]. Diante da sua raridade e considerável sobreposição histológica com os carcinomas in situ e invasivos primários da mama, o diagnóstico se torna desafiador [1,3]. Em geral, as metástases de TNEs tendem a aparecer com características semelhantes às lesões benignas na mamografia, com margens circunscritas e forma oval, sem calcificações associadas. Na ultrassonografia, a apresentação mais comum é como nódulo irregular e hipoecoico, com vascularização interna ao Doppler colorido, e apresentando realce intenso e curva cinética em washout nos estudos com ressonância magnética [4]. Cerca de 85% dos casos de metástases para a mama correspondem a lesão única, normalmente nos quadrantes superiores laterais [5]. Contudo, dados da literatura demonstram que pode haver variedade nestes achados [6], o que foi corroborado pelas características distintas apresentadas nos dois casos descritos. Histologicamente, estes tumores podem ser confundidos com carcinomas mamários invasivo, especialmente nos casos em que a neoplasia neuroendócrina primária não é conhecida, devido à presença de várias características sobrepostas e à frequência relatada de células neuroendócrinas no carcinoma mamário (cerca de 25%) [7]. Dessa forma, é importante que uma avaliação completa da história clínica, achados de imagem e achados histológicos seja realizada para a correta suspeição deste diagnóstico, evitando tratamentos agressivos e inapropriados como mastectomia e terapia sistêmica para o câncer de mama primário [1].
DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS
Tumor neuroendócrino bem-diferenciado primário da mama;
Carcinoma mamário invasivo com característicasneuroendócrinas.
O QUE APRENDI COM ESTE CASO?
As metástases para a mama devem ser lembradas no contexto clínico adequado, sendo importante a avaliação acurada das lesões, mesmo que as características de imagem sejam semelhantes às lesões benignas.
REFERÊNCIAS
1. Perry KD, Reynolds C, Rosen DG, Edgerton ME, T Albarracin C, Gilcrease MZ, Sahin AA, Abraham SC, Wu Y. Metastatic neuroendocrine tumour in the breast: a potential mimic of in-situ and invasive mammary carcinoma. Histopathology. 2011 Oct;59(4):619-30.
2. Urrego Díaz JA, González M, Romero-Rojas AE, Strosberg J, Jiménez-Vásquez P. Neuroendocrine Tumor Metastases to the Breast: A Case Report and Review of the Literature. Cureus. 2023 Jun 20;15(6): e40703.
3. Dongfang Yu, Yi Zhou. Metastatic well-differentiated neuroendocrine tumor in the breast: A case report and literature review. Hum Pathol Case Rep. 2019; 17:200319
4. Bitencourt AGV, Gama RRM, Graziano L, Negrão EMS, Sabino SMPS, Watanabe AHU, et al. Breast metastases from extramammary malignancies: multimodality imaging aspects. Br J Radiol 2017; 90:20170197.
5. Urban, LABD, Chala LF, Mello GGN. CBR - Mama. 1. ed. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.
6. Papalampros A, Mpaili E, Moris D, Sarlanis H, Tsoli M, Felekouras E, Trafalis DT, Kontos M. A case report on metastatic ileal neuroendocrine neoplasm to the breast masquerading as primary breast cancer: A diagnostic challenge and management dilemma. Medicine (Baltimore). 2019 Apr;98(16):e14989.
7. Zagami P, Kandaraki E, Renne G, Grimaldi F, Spada F, Laffi A, Fazio N. The rare entity of bilateral and unilateral neuroendocrine metastases to the breast: a case series and literature review. Ecancermedicalscience. 2020 Oct 15; 14:1123.
Artigo recebido em quarta-feira, 3 de julho de 2024
Artigo aprovado em quarta-feira, 10 de julho de 2024