Bianca de Moraes Coimbra 1, Thaís Trindade Cardoso 2
DOI: 10.5935/2965-1980.2022v1n4a30
Resumo
Paciente feminina, 55 anos, previamente hígida, queixando-se de tosse seca, coriza, febre alta, sudorese e adinamia há cerca de uma semana. A mesma foi internada e teve sorologias positivas para COVID-19. Em estudo por tomografia computadorizada (TC) de tórax evidenciamos opacidades em “ vidro fosco” multifocais com padrão típico para processo inflamatório/infeccioso de etiologia viral.Dados do caso
Feminino, 55 anos.
Palavras chaves
Pneumonia Viral, Infecções por Coronavirus, Tomografia.
Histórico Clínico
Paciente feminina, 55 anos, enfermeira, deu entrada no hospital relatando que há sete dias iniciou o quadro com tosse seca e coriza. Após dois dias, começou a apresentar febre alta diária, sudorese e adinamia. Ao exame físico encontrava-se eupneica, hipocorada e com saturação de 94% em ar ambiente. A paciente foi internada e obteve sorologias positivas para o COVID-19.
Achados Radiológicos
A paciente realizou uma tomografia computadorizada do tórax, sem a administração do meio de contraste, logo após a internação. Neste exame, evidenciamos múltiplas opacidades em vidro fosco, predominantemente periféricas e posteriores (Figuras 1 e 2), por vezes associadas ao espessamento de septos inter e intralobulares, configurando o aspecto em “pavimentação em mosaico”, mais evidentes nos lobos inferiores (Figura 3). O acometimento era multifocal, com extensão de cerca de 25% a 50% dos campos pulmonares.
Discussão
A doença causada pelo coronavírus 2019 (COVID-19) atingiu estágio de pandemia em março de 2020, colocando o papel da radiologia em evidência. Embora, inicialmente, a maioria das organizações e sociedades de radiologia tenham recomendado não utilizar a tomografia computadorizada (TC) de tórax para identificação da COVID-19, vem crescendo o número de TCs realizadas em pessoas sob investigação da mesma (1). Estudos chineses descrevem a TC de tórax como vital no algorítimo diagnóstico principalmente devido ao número limitado de Kits para teste molecular (reação em cadeia da polimerase por transcriptase reversa em tempo real (RT-PCR) em alguns centros (3). Apesar disso a TC de tórax não deve ser utilizada para diagnóstico ou rastreio da COVID-19, particularmente no início da doença (1). As sensibilidades e especificidades relatadas da TC de tórax para COVID-19 variam muito (60 a 98% e 25% a 53%, respectivamente), o que pode ser explicado pela natureza retrospectiva dos estudos atualmente publicados, a falta de critérios rigorosos de diagnóstico por imagens e diferenças de procedimento para confirmação de infecção (1). O padrão tomográfico geralmente apresenta opacidades em vidro fosco, com ou sem consolidação, em uma distribuição periférica, posterior e difusa ou na zona pulmonar inferior (1,4). Foi relatado também que a opacidade em vidro fosco pode apresentar padrão de pavimentação em mosaico (“crazy paving”). Ainda assim uma parcela significativa dos casos apresentam opacidades sem distribuição clara ou específica (1). São menos frequentes o acometimento central do parênquima, a presença de nódulos, cavidades, linfonodomegalias ou derrame pleural (2). A frequência dos achados de imagem também depende do momento em que é realizada a TC de tórax. Alguns pacientes apresentaram TC de tórax negativa durante os primeiros dois dias após o início dos sintomas (1). Nos primeiros 4 dias após o início dos sintomas há um predomínio do padrão de opacidades em vidro fosco. Entre o 5º e o 8º dias, ocorre aumento da extensão de acometimento pulmonar, com o aparecimento de pavimentação em mosaico e consolidações. Entre o 9º e o 13º dias, nota-se o predomínio de consolidações, e, após o 14º dia a partir do início dos sintomas, começa a ocorrer a reabsorção das consolidações e da pavimentação em mosaico, porém podem persistir as opacidades em vidro fosco (2).
Lista de Diferenciais
Diagnóstico
Aprendizado
A tomografia computadorizada de tórax tem papel importante na identificação de pacientes com COVID-19, auxiliando no diagnóstico e identificando a extensão do comprometimento pulmonar.
Referências
1) Simpson S, Kay FU, Abbara S, et al. Radiological Society of North America Expert Consensus Statement on Reporting Chest CT Findings Related to COVID-19. Endorsed by the Society of Thoracic Radiology, the American College of Radiology, and RSNA. Radiology: Cardiothoracic Imaging 2020. Copyright © 2020 Radiological Society of North America. Available at: https://pubs.rsna.org/doi/10.1148/ryct.2020200152 (Accessed on May 27, 2020).
2) Caruso Chate, R, Kaiser Ururahy Nunes Fonseca, E, et al. Apresentação tomográfica da infecção pulmonar na COVID-19: experiência brasileira inicial: J Bras Pneumol. 2020;46(2):e20200121.
3) Bernheim, A, Mei, X, Huang, M, et al. Chest CT Findings in Coronavirus Disease 2019 (COVID-19): Relationship to Duration of Infection. Radiology 2020; 295:685–691.
4) Guan W, Ni Z, Hu Y, et al. Clinical characteristics of coronavirus disease 2019 in China. N Engl J Med. Copyright © 2020 Massachusetts Medical Society. Available at: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2002032 (Accessed on May 27, 2020).DOI: 10.1056/NEJMoa2002032.
Imagens
Figura 3 - Opacidades em vidro fosco com predomínio periférico e posterior, por vezes associadas a pavimentação em mosaico.
Figura 1 - Predomínio periférico das opacidades em vidro fosco.
Figura 2 -Aspecto em pavimentação em mosaico nos segmentos posteriores.
Artigo recebido em sexta-feira, 29 de maio de 2020
Artigo aprovado em quinta-feira, 18 de junho de 2020