Alexandre Makoto Minoda 1, Ricardo Comunello de Carli 2, Silvio Cavalcanti de Albuquerque 3, Eduardo Just Da Costa E Silva 4
DOI: 10.5935/2965-1980.2022v1n4a4
Resumo
Apresentação de um caso de eversão de ureterocele em um recém-nascido diagnosticado após realização de uretrocistografia miccional e ultrassonografia pélvica.Dados do caso
Masculino, 0 anos.
Palavras chaves
Ureterocele, Uretra, Divertículo, Ultrassonografia.
Histórico Clínico
Recém-nascido do sexo masculino, a termo (38 semanas e 4 dias), nascido de parto vaginal sem intercorrências, com APGAR 9 e 10. Ultrassonografia (US) realizada ainda no pré-natal (em outro serviço) evidenciava rim direito de aspecto multicístico, sem outros achados, com índice do líquido amniótico normal. Após o nascimento, foram solicitadas uretrocistografia miccional e ultrassonografia de rins e vias urinárias.
Achados Radiológicos
A US realizada durante o pré-natal evidenciou rim direito de aspecto multicístico. Após o nascimento, o neonato realizou uretrocistografia miccional (UCM) que demonstrou uma falha de enchimento por contraste no assoalho vesical que sugeria ureterocele (figura 1). Na fase miccional, não é mais observada a falha de enchimento, notando-se, entretanto, uma estrutura dilatada projetando-se sobre a uretra posterior (figura 2). Realizou-se, então, uma US pélvica, a qual evidenciou, na bexiga, uma imagem arredondada, cística, de parede finas (figura 4) e em continuidade com o ureter ipsilateral dilatado (figura 3), confirmando o diagnóstico de ureterocele. A bexiga apresentava forma, contornos e espessura de suas paredes normais.
Discussão
A ureterocele (UTC) é uma malformação congênita caracterizada pela expansão cística do segmento terminal do ureter que se projeta para a bexiga, resultando de uma resposta hiperplásica dessa estrutura devido à obstrução do meato ureteral [1, 2]. Adicionalmente pode estar associada à duplicidade do sistema pielocalicinal em até 75% dos casos [2]. A UTC pode ser classificada em intravesical ou ectópica [1]. Sua variante ectópica, mais comum na infância, geralmente é maior, unilateral (90%) e localiza-se mais inferior e medialmente do que a ureterocele intravesical, podendo se estender para o óstio interno da uretra [1, 2]. Seu diagnóstico pode ser realizado no período pré-natal ou neonatal e sua principal manifestação clínica é a infecção do trato urinário [1]. Possui aparência típica à ultrassonografia, marcada por imagem cística redonda, de paredes finas e conteúdo anecoico, localizada fora do meato ureteral normal (na variante ectópica) [2]. Essa variante geralmente associa-se à duplicidade do sistema coletor, com dilatação no polo superior do rim e no ureter ipsilaterais. Quando há duplicação completa do sistema coletor, o refluxo geralmente ocorre na porção inferior [2, 3]. A ureterocele intravesical, por sua vez, ocorre comumente na posição habitual da junção vesicoureteral e é mais comum em adultos. Avaliação adicional pode ser realizada através da UCM, com objetivo de diagnosticar e avaliar a presença de refluxo vesicoureteral [4]. Uma falha de enchimento na bexiga é demonstrada e melhor visualizada durante o início da repleção vesical [1]. À medida que atinge-se a repleção da bexiga, a pressão intraluminal eleva-se e, assim, a UTC pode ser comprimida, achatada contra a parede vesical, e até mesmo everter [1]. Durante a micção, a UCM também pode mostrar um prolapso da ureterocele para a uretra, onde pode produzir obstrução da via de saída. A eversão da ureterocele geralmente ocorre durante a fase miccional da UCM devido a intussuscepção da ureterocele no próprio ureter dilatado ou por conta de uma hérnia paraureteral vesical devido a um enfraquecimento do músculo detrusor [3]. A eversão pode não ser identificada na ultrassonografia pois usualmente não é realizada durante a micção [3].
Lista de Diferenciais
Diagnóstico
Aprendizado
A investigação através de exames de imagem das anormalidades congênitas do trato urinário é uma fonte importante de informações para o diagnóstico correto das doenças do trato urinário em crianças e, consequentemente, seu tratamento. Faz-se necessário que os dados clínicos, limitações e achados nos diferentes métodos de imagem sejam familiares aos radiologistas para o diagnóstico correto, bem como evitar exposição à radiação e exames desnecessários ao paciente.
Referências
Caffey, J., Coley, B. Caffey's pediatric diagnostic imaging. 13th ed. Elsevier; 2018
Berrocal, T, López-Pereira, P., Arjonilla, A., Gutiérrez, J. Anomalies of the Distal Ureter, Bladder, and Urethra in Children: Embryologic, Radiologic, and Pathologic Features. RadioGraphics. 2002;22(5):1139-1164
Bellah, RD., Long, FR., Canning, DA. Ureterocele eversion with vesicoureteral reflux in duplex kidneys: findings at voiding cystourethrography. American journal of roentgenology, 1995;165(2):409-413
Williams, D., Fay, R., Lillie, J. The functional radiology of ectopic ureterocele. British Journal of Urology. 1972;44(4):417-433
Imagens
Figura 1: Uretrocistografia miccional demonstrando falha de enchimento (asterisco) no assoalho vesical durante a fase de enchimento vesical, em incidência oblíqua posterior esquerda, sugerindo ureterocele.
Figura 2: Durante a fase miccional, nota-se o desaparecimento da falha de enchimento vista nas fases anteriores, destacando-se o aparecimento de uma estrutura dilatada projetando-se sobre a uretra posterior (seta).
Figura 3: Imagem longitudinal de ultrassonografia ao nível da bexiga evidenciando ureter direito dilatado que termina em uma imagem cística e arredondada no assoalho vesical direito, configurando ureterocele.
Figura 4: Imagem transversal de ultrassonografia evidenciando imagem cística redonda, de paredes finas e conteúdo anecoico no assoalho vesical direito, consistente com ureterocele.
Artigo recebido em segunda-feira, 25 de maio de 2020
Artigo aprovado em domingo, 27 de setembro de 2020