Houat, AP. - Abdallah de Paula Houat, Mestrado pela Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - Escola Paulista de Medicina 1, NATALIA CECCARONI ORTHMANN 2, Panizza, P. S. B. - Pedro Sergio Brito Panizza, Radiologia Abdominal pela Sociedade Beneficente de Senhoras - Hospital Sírio Libanês 3, Ribeiro, B.J. - Bruno Jucá Ribeiro, Mestrado pela Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - Escola Paulista de Medicina, 4
Resumo
Doença de Kikuchi-Fujimoto (DKF) é uma doença rara e usualmente de curso autolimitado. Sua etiopatogenia não é muito conhecida e é tradicionalmente encontrada em mulheres com menos de 40 anos, mas pode se manifestar em ambos os sexos e qualquer faixa etária. Comumente observa-se um quadro clínico de febre e linfadenopatia cervical. Os achados radiológicos mais frequentes são linfonodomegalias cervicais, sendo o acometimento linfonodal abdominal incomum.Dados do caso
Masculino 28 anos
Palavras chaves
Linfadenite Histiocítica Necrosante, Linfadenite
Histórico Clínico
Sexo masculino, 28 anos, com história de febre diária, frequentemente noturna, cefaleia, tosse e perda de peso há 4 semanas. Antecedente pessoal de psoríase e hepatite C. Ao exame físico: regular estado geral, emagrecido, linfonodomegalia na região cervical posterior e anterior.
Achados Radiológicos
Na tomografia computadorizada (TC) de pescoço e abdome foram observados linfonodos aumentados em número e alguns em tamanho em várias cadeias cervicais bilaterais e abdominais, em especial no ligamento hepatogástrico, hilo hepático e retroperitônio (Figura 1, 3 e 4). Destacavam-se algumas linfonodomegalias com perda do hilo gorduroso e áreas centrais de necrose / liquefação localizadas nas cadeias cervicais (Figura 2).
Discussão
Diante de exames laboratoriais negativos para sorologias infecciosas e pesquisa de BAAR em paciente com linfonodomegalias, prosseguiu-se a investigação com exérese de linfonodos cervicais à direita. O resultado anatomopatológico confirmou a doença de Kikuchi-Fujimoto (DKF), também conhecida como linfadenite histiocítica necrosante. A DKF é uma entidade rara, descrita a primeira vez em 1972 no Japão. A etiopatogenia é incerta, admitindo mais provavelmente a possibilidade etiológicas não neoplásicas autoimune ou viral, inclusive relacionada ao vírus Epstein-Barr [1, 2, 3, 4]. Sua incidência é estimada entre 0,5% a 5% de todas as adenopatias analisadas histologicamente. Esta doença manifesta-se em ambos os sexos e em qualquer faixa etária, entretanto ocorre principalmente em mulheres com menos de 40 anos, com maior prevalência nos países asiáticos [1, 2, 5]. O quadro clínico pode ser agudo ou subagudo, por período de 2 a 3 semanas, cursando com linfadenopatia cervical dolorosa (70 - 100%), unilateral, em especial na cadeia cervical posterior, podendo ou não ter febre (30-50%). A incidência de acometimento extranodal (pele, medula óssea e fígado) e envolvimento de cadeias linfonodais mediastinais e abdominais é variável (1 - 22%). Geralmente não há alterações laboratoriais. A resolução do quadro clínico geralmente é de 1 a 4 meses, porém as adenopatias podem permanecer até 12 meses. Após esse período, há relatos de recorrência em até 4% dos casos [2, 5]. Os achados radiológicos mais frequentes são linfonodomegalias cervicais com realce homogêneo (83%) e com densificação perilinfonodal (80%)[1-6]. A necrose central é relatada em até 16% dos casos. Por ser uma doença rara e ter achados de imagem semelhantes a outras doenças comuns, o seu diagnóstico presuntivo é difícil, tendo a avaliação anatomopatológica uma grande importância.
Lista de Diferenciais
Diagnóstico
Aprendizado
Há um amplo espectro de diagnósticos diferenciais nas linfonodomegalias sendo fundamental a correlação entre os achados clínicos, laboratoriais, radiológicos e patológicos para o diagnóstico.
Referências
Imagens
(FIGURA 1) Tomografia computadorizada de pescoço com contraste endovenoso, em corte axial, observam-se linfonodos aumentados em número e alguns em tamanho (seta), com realce homogêneo, nas cadeias cervicais II e III.
(FIGURA 2) Tomografia computadorizada de pescoço com contraste endovenoso, em corte coronal (A) e axial (B), observam-se linfonodos aumentados em número e alguns em tamanho (seta), com realce homogêneo nas cadeias cervicais II e III, destacando-se linfonodo com realce heterogêneo e componente liquefeito (cabeça de seta) localizado na cadeia cervical VB.
(FIGURA 3) Tomografia computadorizada de abdome com contraste endovenoso, fase portal, em corte axial, observam-se linfonodos aumentados em número e tamanho (seta), com realce homogêneo, no hilo hepático e cadeia peripancreática.
(FIGURA 4) Tomografia computadorizada de abdome com contraste endovenoso, fase portal, em corte coronal oblíqua, observam-se linfonodos com realce homogêneo distribuídos em múltiplas cadeias dos abdome superior e retroperitônio (seta).
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Artigo recebido em quinta-feira, 16 de abril de 2020
Artigo aprovado em quarta-feira, 22 de julho de 2020