• ISSN (On-line) 2965-1980

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Gastrointestinal

FÍSTULA COLOVESICAL POR CORPO ESTRANHO ALIMENTAR

Andréia Cristina Tassi 1, Eduardo Alves Ferreira Martins 2, Marco Alexandre Mendes Rodstein 3, Murilo Cesar Alves Menezes 4

Resumo

A ingestão de corpos estranhos é um problema clínico comum. O risco é maior em crianças, idosos, pessoas com deficiência intelectual ou pacientes com patologias psiquiátricas. A maioria dos corpos estranhos passará pelo trato gastrointestinal sem causar sintomas e causará lesões menores nas mucosas, contudo, 10% a 20% dos casos exigirão algum tipo de intervenção não cirúrgica e ao menos 1% dos casos pode vir a desenvolver complicações com necessidade cirúrgica.

Dados do caso

Feminino 80 anos

Palavras chaves

Fístula da Bexiga Urinária, Reação a Corpo Estranho, Diverticulose Cólica, Fístula do Sistema Digestório, Fístula Intestinal

Histórico Clínico

Paciente com história prévia de diverticulite colônica e infecções recorrentes do trato urinário, não apresentava queixas recentes de dor abdominal antes da internação hospitalar para tratamento da última infecção urinária. Durante a internação, iniciou com pneumatúria e fecalúria, levantando a suspeita de fístula colovesical. Ao exame físico, apresentou dor abdominal à palpação de região hipogástrica, além de sinais de peritonite.

Achados Radiológicos

A Tomografia Computadorizada do abdome mostrou um pequeno corpo estranho radiopaco alojado no cólon sigmoide, além da presença de conteúdo hidroaéreo na bexiga, componente heterogêneo sugestivo de conteúdo fecal e ao menos dois corpos estranhos radiopacos em seu interior. Embora muitas vezes o diagnóstico de fístula colovesical seja firmado no intraoperatório de abdome agudo de causa indeterminada, nos casos em que é possível fazer investigação por imagem, a Tomografia Computadorizada ou Ressonância Magnética são os métodos que fornecem informações mais valiosas. Tais métodos podem demonstrar a presença de ar na bexiga (sinal de fístula na ausência de instrumentação recente ou infecção), espessamento reacional da parede vesical e/ou colônica e frequentemente o próprio pertuito fistuloso e sua etiologia (neoplasia colorretal ou vesical, diverticulite, doença de Crohn, entre outros).

Discussão

Corpos estranhos podem ser ingeridos, inseridos em uma cavidade corporal ou depositados por lesões traumáticas ou iatrogênicas. A maioria dos corpos estranhos ingeridos passa pelo trato gastrointestinal sem causar danos, no entanto, em alguns casos, podem causar obstrução ou perfuração intestinal, sangramento grave, formação de abscesso ou septicemia. Atualmente, acredita-se que menos de 1% dos corpos estranhos ingeridos cause perfuração. Aqueles que causam perfuração geralmente são afiados, pontiagudos ou alongados, sendo eles: ossos de peixe, palitos de dente e ossos de galinha. A maioria dos casos de ingestão de um corpo estranho é inconsciente ou acidental e é mais comum nos extremos da vida (crianças e idosos). A população mais suscetível à ingestão de corpos estranhos são as pessoas que usam dentaduras, pois a sensibilidade tátil do palato mole, vital para a detecção e reconhecimento de pequenos objetos intra-orais, diminui pela presença da prótese. As lesões podem ocorrer em qualquer segmento, da boca ao ânus, contudo, o local mais comum é o intestino, especialmente as áreas de angulação aguda, como as regiões ileal, ileocecal e retossigmoide. O tratamento para perfuração intestinal e fístula vesical por um corpo estranho ocorre por meio da exploração e reparo cirúrgico. Neste caso, o tratamento cirúrgico foi terapêutico e diagnóstico, comprovando a presença de ao menos dez ossos de galinha no cólon sigmoide e na bexiga.

Lista de Diferenciais

  • Doença diverticular do cólon
  • Doença de Crohn

Diagnóstico

  • Fístula colovesical por corpo estranho alimentar

Aprendizado

Corpos estranhos não são incomuns na Tomografia Computadorizada do abdome e pelve e podem representar um desafio diagnóstico ao Radiologista, que deve reconhecer o objeto, caracterizar sua natureza e determinar sua localização. A maioria dos corpos estranhos é detectada incidentalmente na Tomografia Computadorizada, mas podem simular diversas condições patológicas, tornando-se essencial um conhecimento do Radiologista para estabelecer um diagnóstico definitivo.

Referências

  • Coulier B, Tancredi MH, Ramboux A Spiral CT and multidetector-row CT diagnosis of perforation of the small intestine caused by ingested foreign bodies. Eur Radiol 2004;14 (10):1918-1925
  • Hunter TB, Taljanovic MS Foreign Bodies. RadioGraphics 2003; 23: 731–757
  • Manganiotis AN, Banner MP, Malkowicz SB. Urologic complications of Crohn's disease. Surg Clin North Am 2001;81(1):197-215, x.
  • Vagianos C, Malgarinos G, Spyropoulos C, Triantafillidis JK Entero-vesical fistulas in CROHN’S disease: A case series report and review of the literature. International Journal of Surgery Case Reports. 2017 (41) 477–480
  • Noh HM, Chew FS Small-bowel perforation by a foreign body. American Journal of Roentgenology. 1998; 171(4), 1002–1002.

Imagens

TC com contraste evidenciando múltiplos divertículos colônicos nos segmentos descendente e sigmoide, sem sinais inflamatórios atuais. Bexiga com conteúdo hidroaéreo (seta amarela).

TC com contraste evidenciando corpo estranho localizado no cólon sigmoide (seta branca). Bexiga com componente heterogêneo, sugestivo de conteúdo fecal (seta amarela).

TC com contraste evidenciando grande proximidade da bexiga em relação ao cólon sigmoide em seu aspecto supero-lateral direito (processo aderencial), apresentando óstio parietal de descontinuidade e coleção laminar justaposta (seta branca). Bexiga com componente heterogêneo, sugestivo de conteúdo fecal (seta amarela).

TC com contraste evidenciando grande proximidade da bexiga em relação ao cólon sigmoide em seu aspecto supero-lateral direito (processo aderencial), apresentando óstio parietal de descontinuidade e coleção laminar justaposta (seta branca). Bexiga com componente heterogêneo, sugestivo de conteúdo fecal (seta amarela).

TC com contraste evidenciando grande proximidade da bexiga em relação ao cólon sigmoide em seu aspecto supero-lateral direito (processo aderencial), apresentando óstio parietal de descontinuidade e coleção laminar justaposta (seta branca). Bexiga com componente heterogêneo, sugestivo de conteúdo fecal (seta amarela).

TC com contraste evidenciando a bexiga distendida com conteúdo hidroaéreo, componente heterogêneo sugestivo de conteúdo fecal e elemento linear hiperdenso (corpo estranho) no interior (seta amarela).

Vídeos

Artigo recebido em segunda-feira, 30 de março de 2020

Artigo aprovado em sexta-feira, 8 de maio de 2020

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