• ISSN (On-line) 2965-1980

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Neurorradiologia

RADICULOMIELITE DE ETIOLOGIA ESQUISTOSSOMÓTICA

Juliana Holanda de Gauw 1, Rodrigo Cerqueira Bomfim 2, Luana Thayse Barros de Lima 3, Blensten Hausten Harley Souza Neves 4

Resumo

Apresenta-se um caso de radiculomielite esquistossomótica em um paciente de 10 anos procedente do agreste de Alagoas.

Dados do caso

Masculino, 10 anos.

Palavras chaves

Neuroesquistossomose, Schistosoma mansoni, Mielite.

Histórico Clínico

Paciente de 10 anos, procedente do agreste de Alagoas, iniciou quadro súbito e progressivo de dor lombar, acompanhada de febre, diminuição da força e parestesia em MMII, nível sensitivo em T12, evoluindo com retenção urinária. Imunoflorescência indireta para S. mansoni com resultado reagente (1:128).

Achados Radiológicos

Alteração de sinal de aspecto edematoso acometendo o cone medular e porção inferior da medula espinhal torácica com focos de discreta impregnação nodular pelo meio de contraste [figuras 1 a 5]. Observa-se ainda realce das raízes da cauda equina [figura 2] .

Discussão

A mielorradiculopatia/radiculomielite esquistossomótica é a forma ectópica mais grave e incapacitante da infecção pelo Schistosoma mansoni [1] A sua prevalência em área endêmica tem sido subestimada estando representada nos artigos como baixa prevalência, porém é considerada a causa mais frequente de mielopatia, excluindo-se as de causa traumática e tumoral [2]. A doença tem ótimo prognóstico se diagnosticada e tratada precocemente [3]. A biópsia para comprovação histopatológica é o exame padrão-ouro [3], porém pode ser dispensada graças ao avanço da neurorradiologia e de exames laboratoriais devendo ficar reservada apenas para casos duvidosos ou não responsivos ao tratamento. Os ovos e vermes podem deslocar-se através do fluxo venoso retrógrado pelo plexo venoso vertebral epidural de Batson, avalvular, que conecta o sistema venoso portal e a veia cava às veias do canal espinhal, justificando a maior incidência de mielopatia na região lombossacra [1]. Entre os diagnósticos diferenciais estão: trauma medular, injeção intratecal, radiação, tumores, deficiência de vitamina B12 ou excesso de folato, síndrome antifosfolípide, vasculite diabética ou auto-imune, mielite por HIV, HTLV ou HSV, sífilis, abscessos medulares, tuberculose e mielopatia associada ao vírus B da hepatite, siringomielia e neurocisticercose [1]. Visto a ampla variedade dos diagnósticos diferenciais ressalta-se a importância dos dados epidemiológicos e laboratoriais no auxílio ao diagnóstico por imagem.

Lista de Diferenciais

  • Trauma medular
  • Injeção intratecal
  • Mielite por HIV

Diagnóstico

  • RADICULOMIELITE DE ETIOLOGIA ESQUISTOSSOMÓTICA

Aprendizado

O diagnóstico imaginológico da radiculomielite esquistossomótica deve estar em indispensável correlação com a epidemiologia, além da presença de sintomas neurológicos já descritos, pois há uma ampla variedade de diagnósticos diferenciais que podem dificultar a suspeita imaginológica.

Referências

[1] Silva LC, Maciel PE, Ribas JG, et al. Schistosomal myeloradiculopathy. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 2004. 37 (3): 261-72. doi:10.1590/s0037-86822004000300013 - Pubmed
[2] Peregrino AJ, Puglia, PM, Bacheschi LA, et al. Diagnóstico da esquistossomose medular: contribuição da ressonância magnética e eletroneuromiografia. Arquivos de Neuro-Psiquiatria 2002. 60(3A), 597-602. https://doi.org/10.1590/S0004-282X2002000400015
[3] Lambertucci JR, Silva LC, do Amaral RS. Guidelines for the diagnosis and treatment of schistosomal myeloradiculopathy. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 2007. 40 (5): 574-81. doi:10.1590/s0037-86822007000500016 - Pubmed

Imagens


[Figura 1]. T1 sagital pré-contraste. Aumento da espessura do cone medular.


[Figura 2]. T1 sagital pós-contraste. Focos de realce micronodular pelo meio de contraste ao nível do cone medular. Impregnação de algumas raízes da cauda equina.


[Figura 3]. T1 axial pós-contraste. Focos de realce micronodular pelo meio de contraste ao nível do cone medular.


[Figura 4]. T2 sagital. Alteração do sinal, de aspecto edematoso, acometendo o cone medular e o segmento inferior da medula espinhal torácica.


[Figura 5]. T2 axial. Alteração do sinal, de aspecto edematoso, acometendo o cone medular.

Artigo recebido em sexta-feira, 6 de março de 2020

Artigo aprovado em quinta-feira, 18 de junho de 2020

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