• ISSN (On-line) 2965-1980

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Cabeça e Pescoço

ARMADILHA DURANTE AVALIAÇÃO DE TOMOGRAFIA DOS SEIOS DA FACE

Maria Eduarda Cordeiro Barroso Rocha 1, Vitor Oliveira Machado 2, Daniela Rodrigues Mohn 3

Resumo

Os exames de cabeça e pescoço são frequentemente desafiadores devido a sua anatomia complexa e aos diagnósticos diferenciais nem sempre amplamente conhecidos - o que coloca o radiologista inexperiente em situações para as quais ele pode não estar preparado. Neste relato, avaliamos a história de uma paciente que realizou uma TC de Seios da face, e cuja presença de corpo estranho mastigável foi uma armadilha para o seu diagnóstico, por falsear tumor e infecção em um quadro clínico sugestivo.

Dados do caso

Feminino, 51 anos.

Palavras chaves

Seios Paranasais, Tomografia.

Histórico Clínico

Mulher de 51 anos, diabética e com queixa de cefaleia há mais ou menos 30 dias, tosse, coriza nasal, evoluindo com dor retro-orbitária à direita e inchaço na hemiface direita. Relata que não houve melhora dos sintomas após o uso de analgésicos. Exames laboratoriais sem alterações significativas, solicitado então tomografia de seios da face.

Achados Radiológicos

FIG 1: Imagem nodular circunscrita e homogênea com densidade média de 450 UH no sulco gengivobucal inferior direito, notando-se foco gasoso de permeio, sem determinar erosão ou remodelamento de estruturas ósseas adjacentes. FIG 2: Foco gasoso adjacente imagem nodular, sendo outro achado que sugere corpo estranho mastigável.

Discussão

A história clínica desta paciente, seja por ser de idade avançada, portadora de diabetes mellitus e sintomas respiratórios, inicialmente direcionou a equipe de residentes do serviço para a busca por sinais inflamatórios e sinais de remodelamento ósseo adjacente a imagem nodular encontrada - os quais não foram achados. Além disso, a imagem não possuía realce, sua densidade média (UH) era elevada, e possuía um local de apresentação atípico para os diagnósticos diferenciais inicialmente considerados (malformações ósseas, cálculo, abscesso e hematomas). Na discussão do caso com o staff do serviço de residência, após discussão e pesquisa na literatura, direcionou o que antes parecia ser um complexo diagnóstico, para uma "simples" presença de corpo estranho oral comestível / mastigável (em inglês "Comestible or chewable intraoral foreign bodies - IOFB") como uma bala ou chiclete - o que foi confirmado quando a equipe entrou em contato com a paciente e ela informou que, de fato, estava com um chiclete durante o exame. A presença incidental de IOFB frequentemente acontece na TC de seios da face (1). Apesar disso, existem ainda poucos estudos sobre aparência destes corpos estranhos, o que determina a importância dessa discussão, haja vista a possibilidade de uma interpretação errada pelo radiologista. Portanto, este relato propõe um alerta, em especial para radiologistas ainda inexperientes, e uma revisão da escassa literatura a nossa disposição: achados que podem auxiliar na constatação de um IOFB são imagem nodular com densidade elevada (maior que a do tecido mole subjacente) - o que foi encontrado no exame da paciente deste relato (1), e outro comum achado é o colapso da mucosa em volta do IOFB rígido com foco gasoso adjacente.

Lista de Diferenciais

  • Malformações ósseas
  • Cálculo
  • Abscesso
  • Hematomas

Diagnóstico

  • Corpo estranho oral comestível / mastigável.

Aprendizado

É importante reconhecer possíveis artefatos que podem mimetizar doenças, principalmente quando o tema é cabeça e pescoço, visto que o diagnóstico tardio ou errado podem levar a situações extremas. Até hoje temos muitos relatos de caso / ensaio iconográficos sobre mimetizadores em outras regiões do corpo porém nos seios da face ainda são escassos.

Referências

1. McDermott M, Branstetter BF, Escott EJ. What’s in Your Mouth? The CT Appearance of Comestible Intraoral Foreign Bodies. American Journal of Neuroradiology. 2008 May 22;29(8):1552–5. ‌

Imagens


FIG. 1: Na seta verde: Imagem nodular circunscrita e homogênea com densidade média 450 UH no sulco gengivobucal inferior direito, notando-se foco gasoso de permeio, sem determinar erosão / remodelamento de estruturas ósseas adjacentes.


FIG 2: Na seta vermelha: Foco gasoso adjacente.

Artigo recebido em quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Artigo aprovado em quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

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