Giuseppe D'ippolito 1, José Eduardo Mourão Santos 2, LILIAN AGUIAR PUPO ZANINI 3
Abstract
O adenoma nefrogênico é um tipo incomum de neoplasia benigna do trato urinário, decorrente de metaplasia de células uroteliais com proliferação epitelial ao longo da mucosa e frequentemente associado a processos inflamatórios crônicos de repetição, sendo mais prevalentes em homens na idade adulta [¹,²]. O objetivo deste relato de caso é revisar os principais os aspectos epidemiológicos do adenoma nefrogênico e apresentar os aspectos de imagem por ressonância magnética.Dados do caso
Masculino 69 anos
Palavras chaves
Procedimentos Cirúrgicos Urológicos, Imagem por Ressonância Magnética, Neoplasias Urológicas
Histórico Clínico
Paciente masculino 69 anos, procurou atendimento urológico com queixa de nodulação palpável e indolor no períneo há 2 anos, com sensação de dormência local associado a disfunção erétil. Realizou exames laboratoriais gerais (incluindo o PSA) com resultados normais. Fez ressonância magnética da pelve e biópsia guiada por ultrassonografia. O diagnóstico foi comprovado por histologia e imunohistoquímica. Como tratamento foi optado a ressecção cirúrgica.
Achados Radiológicos
Lesões císticas bem definidas, tubulares, multisseptadas ou multiloculadas, que acometem o colo vesical, uretra, ureter e a pelve renal, com tamanhos variados de 0,3 cm a 15 cm [¹]. Na ressonância magnética as lesões aparecem com um alto sinal em T2 e baixo sinal em T1, sem realce. Quando grandes podem apresentar conteúdo hemático. No caso apresentado observa-se uma volumosa formação cística (alto sinal em T2) multiloculada centrada no assoalho pélvico / períneo, estendendo-se: - superiormente para o ápice prostático, notadamente na região apicobasal da próstata à direita; - inferiormente para a musculatura puborretal, pubococcígea, com compressão e deslocamento da musculatura do plano interesfincteriano à direita; - anteriormente para o bulbo esponjoso / base do pênis à esquerda (Figuras 1, 2 e 3) e que não apresenta realce pelo meio de contraste (Figura 4). Mede cerca de 11,5 x 9,3 x 4,5 cm.
Discussão
O adenoma nefrogênico é uma neoplasia benigna do trato urinário, decorrente de um processo metaplásico das células uroteliais com proliferação epitelial ao longo da mucosa do trato urinário [¹,²]. Embora sua patogênese ainda seja desconhecida, frequentemente está associado a processos inflamatórios crônicos, manipulações cirúrgicas pregressas, transplante renal, divertículos uretrais e tratamentos prévios com BCG intravesical. Predomina nos adultos e ⅔ são do sexo masculino [³]. Os sintomas são inespecíficos, por vezes relacionados à urgência miccional e polaciúria, sendo infrequente a queixa de hematúria [¹]. Quando grandes podem provocar sintomas obstrutivos, como retenção urinária e/ou hidronefrose. Geralmente são detectados por via endoscópica [¹] e o diagnóstico é por uma análise histopatológica com estudo imunohistoquímico [²]. Os aspectos radiológicos evidenciam uma lesão cística multisseptada ou multiloculada, de aspecto tubuliforme, localizada no trato urinário, predominando no colo vesical (80%), uretra (15%), ureter (5%) e pelve renal (<1%)[¹], sendo melhor caracterizada no estudo por ressonância magnética, que avalia a extensão da lesão e os planos anatômicos, com o objetivo terapêutico e prognóstico. Foram relatados alguns casos de recidiva após a ressecção e também a associação com carcinoma e papiloma uroteliais [³]. Este relato de caso apresentou dados epidemiológicos e aspectos radiológicos concordantes com os dados literários, entretanto a sintomatologia apresentada pelo paciente não foi observada por nenhum outro autor. Isso pode ser decorrente de uma baixa prevalência da doença somada aos poucos estudos encontrados, sobretudo os com alto nível de evidência científica.
Lista de Diferenciais
Diagnóstico
Aprendizado
O adenoma nefrogênico é uma patologia incomum e deve ser lembrada no diagnóstico diferencial das lesões multicísticas do trato urinário inferior, principalmente quando acometer o colo vesical e a uretra, em pacientes masculinos e adultos, por se tratar de uma lesão curável. Embora o diagnóstico seja histopatológico, o papel do radiologista se torna fundamental na avaliação da ressecabilidade, na suspeição de malignização e na pesquisa de recidivas.
Referências
Imagens
Figura 1- Coronal T2. Extensão da lesão multicística (seta amarela) para os planos púbicos e peniano.
Figura 2 - Sagital T2. Extensão da lesão multicística (seta amarela) e a relação com os planos anatômicos.
Figura 3 - Axial T2. Extensão da lesão multicística (seta amarela) em outra incidência.
Figura 4 - Sequência pós-contraste mostrando que a lesão não apresentou realce (seta amarela grande).
Vídeos
Article receive on Wednesday, April 8, 2020
Artigo aprovado em Thursday, June 11, 2020