Ariadne Mayumi Fernandes Yamada1; Livia de Oliveira Antunes2; Luis Ronan Marquez Ferreira de Souza3; Adriano Benicio Fernandes Yamada4
DOI: 10.5935/2965-1980.2024v3e20240020
DESCRIÇÃO DO CASO CLÍNICO
Paciente do sexo feminino, 43 anos, apresentando história de dor pélvica crônica e investigação diagnóstica de infertilidade. Refere dor e abaulamento em região inguinal esquerda. Não há relato de cirurgias prévias. Ultrassonografia transvaginal evidenciou miomas uterinos. Prosseguiu investigação diagnóstica com Ressonância Magnética da Pelve.
ACHADOS DE IMAGEM
A ressonância magnética da pelve evidencia nódulo endometriótico infiltrativo com predomínio de fibrose e presença de tecido glandular, inclusive com sangramento, localizado na tela subcutânea da região inguinal esquerda, com sinais de continuidade com a porção extraperitoneal do ligamento redondo que se apresenta espessado, medindo 3,7 x 2,7 x 3,4 cm, distando 1,0 cm da superfície da pele (figuras 1 e 2). O exame de controle realizado após nove meses evidenciou aumento do componente glandular e áreas de sangramento da lesão endometriótica em região inguinal (figuras 3 e 4). O ligamento redondo direito e canal inguinal direito apresentaram morfologia e sinal habituais. Além desses achados, a paciente apresenta também sinais de endometriose profunda no compartimento posterior da pelve e miomas uterinos.
DISCUSSÃO
A endometriose é uma doença inflamatória crônica, caracterizada por tecido semelhante ao endométrio localizado fora do útero Paciente do sexo feminino, 43 anos, apresentando história de [1]. É considerada doença de origem multifatorial, resultante dor pélvica crônica e investigação diagnóstica de infertilidade. da combinação de fatores ambientais, genéticos, hormonais e Refere dor e abaulamento em região inguinal esquerda. Não imunológicos, gerando dificuldades ao diagnóstico. O alto custo há relato de cirurgias prévias. Ultrassonografia transvaginal dos procedimentos e os resultados insatisfatórios associados evidenciou miomas uterinos. Prosseguiu investigação ao quadro clínico incapacitante, resultam em um problema de diagnóstica com Ressonância Magnética da Pelve saúde pública [2]. As diretrizes de 2022 da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE) recomendam ACHADOS DE IMAGEM o uso de ultrassom (US) e ressonância magnética (RM) como A ressonância magnética da pelve evidencia nódulo teste diagnóstico [3]. Os sítios de envolvimento mais comuns são endometriótico infiltrativo com predomínio de fibrose e o espaço retrocervical, vagina, ovários, bexiga, retossigmoide e presença de tecido glandular, inclusive com sangramento, ligamentos redondos. A endometriose extrapélvica é rara, sendo a localizado na tela subcutânea da região inguinal esquerda, região inguinal envolvida em 0,3% a 0,6% dos casos, pode envolver a com sinais de continuidade com a porção extraperitoneal do porção extraperitoneal do ligamento redondo, linfonodos inguinais, ligamento redondo que se apresenta espessado, medindo 3,7 tecido subcutâneo ou mesmo hérnias [4]. Um nódulo na região inguinal pode ser difícil de distinguir de uma ampla variedade de diagnósticos, como hérnia, linfonodomegalia, neoplasia, hidrocele de Nuck e lipomas. Os exames de imagem são fundamentais para a diferenciação diagnóstica, sendo os achados semelhantes aos identificados em endometriose de localizações típicas [5]. Nas imagens de RM, as lesões endometrióticas sólidas se apresentam como estruturas nodulares hipointensas irregulares ou estreladas, podendo ter focos hiperintensos em T2 (glândulas endometriais). Quando há extravasamento de glóbulos vermelhos dos ductos glandulares ao estroma, essas pequenas hemorragias tornam-se visíveis como pontos hiperintensos nas imagens ponderadas em T1 [6]. A US com doppler demonstra massa hipoecoica com fluxo ausente, com ou sem áreas císticas. A RM tem mais acurácia porque pode demonstrar o conteúdo hemorrágico antigo relacionado ao sangramento cíclico. O sangue espesso e envelhecido é responsável pelo alto sinal em T1 e baixo sinal em T2 (“sinal de sombreamento”). O diagnóstico final é baseado nos resultados histopatológicos após a excisão cirúrgica, sendo rara a degeneração maligna.O tratamento de escolha é a ressecção cirúrgica da lesão e deve incluir a remoção da porção extraperitoneal do ligamento redondo para evitar recorrências. Devido à alta associação com endometriose pélvica, a laparoscopia concomitante é indicada para tratar doenças pélvicas [4]. No caso apresentado, apesar da localização atípica, os achados de RM evidenciaram sinais típicos de endometriose, facilitando o mapeamento pré-operatório dos focos endometrióticos pélvicos e extrapélvicos. A paciente foi submetida a cirurgia com excisão completa da lesão e análise histopatológica que confirmou o diagnóstico de endometriose sem sinais de malignidade.
DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS
Linfonodomegalia inguinal;
Hérnia inguinal;
Hidrocele de Nuck.
O QUE APRENDI COM ESTE CASO?
Atualmente, a endometriose é um problema de saúde pública, sendo importante conhecer não apenas as localizações típicas, mas, também os sítios atípicos de acometimento da doença. A endometriose extrapélvica é rara e pode ser difícil de diagnosticar devido à grande variabilidade de localização e manifestações clínicas. O diagnóstico tardio é comum em pacientes com endometriose pélvica e é ainda mais comum naquelas com doença extrapélvica. A excisão cirúrgica do tecido endometriótico ectópico é a principal opção de tratamento definitivo, portanto, o radiologista tem papel fundamental no mapeamento dos focos endometrióticos.
REFERÊNCIAS
1. Horne AW, Missmer SA. Fisiopatologia, diagnóstico e tratamento da endometriose. BMJ 2022;379:e070750 doi: https://doi.org/10.1136/bmj-2022070750.
2. Cruz Araújo FW, Schmidt DB. Endometriose um problema de saúde pública: revisão de literatura. SAÚDE [Internet]. 17º de novembro de 2020;14(18).
3. Piccolo CL, Cea L, Sbarra M et al. Magnetic Resonance Roadmap in Detecting and Staging Endometriosis: Usual and Unusual Localizations. Appl. Sci. 2023, 13, 10509. https://doi.org/10.3390/app131810509
4. Chamié LP, Ribeiro DMFR, Tiferes DA, Neto ACM, Serafini PC. Atypical Sites of Deeply Infiltrative Endometriosis: Clinical Characteristics and Imaging Findings. RadioGraphics 2018 38: 1, 309-328. https://doi.org/10.1148/rg.2018170093
5. Li SH, Sun HZ, Li WH, Wang SZ. Inguinal endometriosis: Ten case reports and review of literature. World J Clin Cases. 2021 Dec 26;9(36):1140611418. doi: 10.12998/wjcc. v9.i36.11406. PMID: 35071572; PMCID: PMC8717526.
6. Foti PV, Farina R, Palmucci S et al. Endometriosis: clinical features, MR imaging findings and pathologic correlation. Insights Imaging. 2018 Apr;9(2):149-172. doi: 10.1007/s13244-017-0591-0. Epub 2018 Feb 15. PMID: 29450853; PMCID: PMC5893487.
Artigo recebido em domingo, 14 de julho de 2024
Artigo aprovado em domingo, 14 de julho de 2024