Renata Cobo de Oliveira1; Luis Ronan Marquez Ferreira de Souza2
DOI: 10.5935/2965-1980.2024v3e20240031
Abstracto
Feminino, 42 anos, antecedente de metrorragia há 6 meses por miomatose uterina. Evoluiu com anemia grave. Submetida à nefrostomia bilateral por IRA pós renal. Aos exames: Hb:5,1 e função renal alterada (Cr:10,8 e Ur: 72). Submetida à nefrostomia bilateral e biópsia. Ao anatomopatológico, evidenciou-se carcinoma neuroendócrino de alto grau.
ACHADOS RADIOLÓGICOS
O exame inicial de escolha foi a ultrassonografia. Ao exame por via endocavitária, o útero apresentava dimensões aumentadas, com uma massa heterogênea extrusa pelo colo uterino, que tinha fluxo ao Doppler colorido. No exame por via abdominal, apresentava conteúdo heterogêneo intravesical, associado a moderada hidronefrose bilateral e simétrica. Devido à disfunção renal, realizou tomografia abdominal sem contraste (Figura 1). Esta acrescentou que a bexiga estava preenchida por conteúdo provavelmente hemático e componente sólido, além de ascite e anasarca. Então, foi indicada um RM de pelve (Figuras 2 e 3). Esta identificava uma volumosa lesão heterogênea vegetante do colo uterino, comprometendo o orifício interno do colo e os fórnices vaginais, mais acentuadamente o posterior, com extensão à parede posterior vesical. Associa-se a comprometimento dos ureteres, extensa linfonodomegalia e ascite. Ambas as lesões apresentam sinal intermediário em T2 e focos de restrição à difusão.
DISCUSSÃO
São neoplasias malignas provenientes de células neuroendócrinas ou de células pluripotentes. Identificados à microscopia os grânulos neurossecretores ou por imunohistoquímica para cromogranina, sinaptofisina, enolase neuroespecífica ou PSP 9,5 [1,2]. O tumor neuroendócrino do colo uterino é subdividido em tumores de baixo grau, sendo eles, tumor carcinoide e tumor carcinoide atípico, e os de alto grau, carcinoma neuroendócrino de pequenas células e carcinoma neuroendócrino de grandes células [1,3,4]. Vale ressaltar que o carcinoma neuroedócrino do colo uterino é raro, responsável por cerca de 1-1,5 % de todos os cânceres de cérvix. Associa-se a infecção pelo HPV 18 e 16, além de alta taxa de metastização linfática e hematogênica [1,5]. O subtipo de carcinoma de pequenas células do colo uterino é mais raro, com uma incidência anual de 0,06 casos por 100000 pacientes. Devido a sua baixa prevalência, a sensibilidade dos exames citológicos preventivos é baixa (cerca de 46% dos pacientes com diagnóstico de pequenas células) [4,5]. No caso relatado, ao diagnóstico, a paciente apresentava doença avançada semelhante os dados de literatura. Havia invasão por contiguidade para bexiga, além de linfonodopatia e invasão do espaço vesico uterino. Nas tomografias de estadiamento, identificou-se também linfonodomegalia nas cadeias para-aórticas e retrouterinas, bem como derrame pleural moderado à direita. Devido à raridade dessa malignidade, o manejo do carcinoma neuroendócrino é difícil e incerto. A abordagem interdisciplinar é imprescindível [6]. Feito proposta terapêutica de quimioterapia antineoplásica paliativa, com Paclitaxel e Carboplatina, que contemplam os estudos de abordagem em primeira linha no tratamento de câncer de colo uterino avançado. Após o primeiro ciclo, paciente evoluiu com anemia grave (Hb:4,5) hipocalemia (K:2,5), hipomagnesemia (Mg:1,1) e quadro clínico de cistite, sendo necessário internação para compensação do quadro. Até a conclusão deste relato, a paciente permanece internada e em acompanhamento especializado pela onco ginecologia. Ainda, ressalta-se que o amplo espectro clínico em que a doença pode vir a se manifestar, adicionando-se a morosidade do acesso ao sistema público de saúde da população agravam a dificuldade de detecção precoce. O prognóstico do carcinoma de pequenas células do colo uterino é semelhante ao sítio pulmonar, em que aproximadamente 60-80% das pacientes têm invasão linfática e 40-60% tem metástase pélvicas [1,6].
DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS
Adenocarcinoma de colo uterino
Carcinoma de células escamosas.
O QUE APRENDI COM ESTE CASO?
Apesar da frequência rara, o carcinoma de pequenas células de colo uterino é agressivo, e geralmente apresentam metástase ao diagnóstico. Não existe na literatura características de imagem específicas, evidencia-se a função do radiologista em atentar-se, descrever e valorizar mínimas alterações de colo uterino nos diversos métodos de imagem
REFERÊNCIAS
1.Rashed MM, Bekele A. Neuroendocrine differentiation in a case of cervical cancer. Pan Afr Med J. 2010 Jul 28;6:4. PMID: 21436947; PMCID: PMC3063496.
2.Elsherif, S., Odisio, E.G.L.C., Faria, S. et al. Imaging and staging of neuroendocrine cervical cancer. Abdom Radiol 43, 3468–3478 (2018). https://doi.org/10.1007/s00261-018-1667-0
3.Duan, X., Ban, X., Zhang, X. et al. MR imaging features and staging of neuroendocrine carcinomas of the uterine cervix with pathological correlations. Eur Radiol 26, 4293–4302 (2016). https://doi.org/10.1007/s00330-016-4327-1
4.Angel Chao, Ren-Chin Wu, Chiao-Yun Lin, Ting-Chang Chang, Chyong-Huey Lai, Small cell neuroendocrine carcinoma of the cervix: From molecular basis to therapeutic advances, Biomedical Journal, Volume 46, Issue 5, 2023, 100633, ISSN 2319-4170, https://doi.org/10.1016/j.bj.2023.100633.
5.Eto S, Kai K, Nasu K, Nishida M, Nishida H, Narahara H. Small cell carcinoma of the uterine cervix during pregnancy. Rare Tumors. 2019;11. doi:10.1177/2036361319866539
6.Tempfer, C.B., Tischoff, I., Dogan, A. et al. Neuroendocrine carcinoma of the cervix: a systematic review of the literature. BMC Cancer 18, 530 (2018).
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Artículo recibido en miércoles, 30 de octubre de 2024
Artículo aceptado el domingo, 18 de mayo de 2025