• ISSN (On-line) 2965-1980

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Informe de caso

Arthur Henrique de Macedo Godeiro; Carolinny Cruvinel Maia; Gabriela Caetano Vilela Lauar; José Lucas Scarpinetti Galvão; Sabrinny Nogueira

DOI: 10.5935/2965-1980.2024v3e20240047

HISTÓRICO CLÍNICO

Paciente do sexo feminino, 35 anos, realizou consulta médica referindo surgimento de nodulação em região submentoniana há aproximadamente 4 meses, sem dor ou saída de secreção. Negava perda ponderal, disfagia ou odinofagia. A investigação inicial com ultrassonografia revelou linfonodos aumentados e nódulos na topografia da base da língua.

 

ACHADOS RADIOLÓGICOS

Durante o desenvolvimento embrionário, a glândula tireoide se forma na base da língua e migra para o pescoço, anterior à traqueia. Na avaliação da paciente, a ultrassonografia revelou duas formações nodulares arredondadas e isoecogênicas na base da língua, com fluxo periférico ao Doppler (Figura 1). Linfonodos aumentados com espessamento cortical e redução do hilo central também foram observados (Figura 2). A tomografia mostrou uma formação lobulada no assoalho da cavidade oral, compatível com glândula tireoide ectópica, deslocando músculos adjacentes e contendo calcificações (Figura 3). A reconstrução 3D evidenciou sua posição na linha média, próxima ao osso hioide (Figura 4). A ressonância magnética destacou o tecido tireoidiano ectópico com isossinal ao tecido muscular nas sequências ponderadas em T1,T2 e STIR, com leve restrição à difusão, essencial para diagnóstico (Figura 5).

 

DISCUSSÃO

Tecido ectópico é uma anomalia anatômica em que o tecido se desenvolve em uma área fora de sua localização normal. É causado principalmente por anormalidades durante o processo de desenvolvimento embrionário [1]. O tecido tireoidiano ectópico (TTE) se forma devido à falha na migração da tireoide (Figura 1), principalmente ao longo do ducto tireoglosso, podendo também ser encontrado em órgãos subdiafragmáticos [1, 2, 3]. Sua prevalência é de aproximadamente 1 em cada 100.000–300.000 pessoas [2]. Os sintomas do TTE dependem de sua localização, sendo a localização lingual a mais comum, representando cerca de 90% dos casos relatados [1,2]. Quando alocados nesta localização, podem cursar com disfagia, disfonia, sensação de corpo estranho, tosse, ronco, apneia do sono e hipotireoidismo [1, 2]. A região normal da tireoide deve sempre ser avaliada quanto à presença ou ausência de tecido tireoidiano, pois o tecido tireoidiano ectópico pode ser o único tecido tireoidiano presente em cerca de 70-90% dos pacientes. Dessa forma, a ressecção nesses casos resultaria em um paciente atireóideo [2]. A cintilografia utilizando Tc-99m, I-131 ou I-123, é a ferramenta diagnóstica mais importante para detectar tecido tireoidiano ectópico [2]. Entretanto, outras modalidades de imagem radiológica, como ultrassonografia, tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM), podem ajudar a determinar a extensão e a localização do tecido ectópico, contribuindo assim para uma melhor avaliação pré-cirúrgica desses casos [2]. Um estudo avaliando a capacidade da US com Doppler colorido para detectar tecido tireoidiano ectópico em pacientes com hipotireoidismo congênito mostrou uma sensibilidade de 90%, em comparação com 70% na US em escala de cinza ou na RM [4]. Nesse estudo, o sinal colorido periférico ou interno correspondeu precisamente à concentração focal indicada pela imagem radionuclídica [4]. A TC e a RM são úteis para identificar a localização do tecido ectópico, especialmente quando distante do trajeto de descida da tireoide [2]. O TTE apresenta-se como uma massa bem circunscrita, com realce intenso e calcificações frequentes na tomografia computadorizada com contraste [1, 3]. Já na ressonância magnética, apresenta isointensidade em relação à musculatura nas imagens ponderadas em T1 e leve hiper intensidade nas imagens ponderadas em T2 [1, 3]. Vários tumores hipervasculares devem ser considerados como diagnósticos diferenciais. Os achados de imagem, como a maior atenuação e calcificação, refletindo o conteúdo de iodo nas imagens sem contraste, podem auxiliar na diferenciação [1]. Entre eles, os carcinomas tireoidianos metastáticos, especialmente carcinomas bem diferenciados, possuem achados de imagem semelhantes ao TTE, mas tendem a ter forma irregular e a se desenvolver como lesões múltiplas [5].]

 

DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS

Adenomas e cistos na linha média, incluindo angiomas, fibromas,linfangiomas, lipomas, tumores de glândulas salivares, cistos do ducto tireoglosso, cistos branquiais da linha média, e cistos epidérmicos ou sebáceos, assim como do tumor fibroso solitário do tecido mole peritireoidiano [2].

 

O QUE APRENDI COM ESTE CASO?

O tecido tireoidiano pode estar presente em locais anômalos devido a falhas na migração embrionária, como a base da língua ou outras regiões cervicais. A análise de imagens, como ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética, é essencial para a identificação da tireoide ectópica. Esses exames permitem não só localizar a glândula, mas também avaliar suas características, como tamanho, vascularização e presença de nódulos ou calcificações. Além disso, casos como este mostram a importância de considerar alterações hormonais e sintomas compressivos, mesmo que a tireoide ectópica possa ser assintomática. O manejo clínico ou cirúrgico dependerá da apresentação clínica e das potenciais complicações, destacando a importância de uma abordagem individualizada para cada paciente.

 

REFERÊNCIAS

(1). Kurokawa, Mariko, et al. Imaging features of ectopic tissues and their complications: embryologic and anatomic approach. Radiographics 43.6 (2023): e220111.

(2). Noussios G, Anagnostis P, Goulis DG, Lappas D, Natsis K. Ectopic thyroid tissue: anatomical, clinical, and surgical implications of a rare entity. Eur J Endocrinol 2011;165(3):375–382.

(3). Raji Y, Gupta S, Pucar D, Keshavamurthy JH. Ectopic thyroid: the great mimicker. Lung India 2018;35(3):248–250.

(4). Ohnishi H, Sato H, Noda H, Inomata H & Sasaki N. Color Doppler ultrasonography: diagnosis of ectopic thyroid gland in patients with congenital hypothyroidism caused by thyroid dysgenesis. Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism 200388 5145–5149. (doi:10.1210/jc.2003-030743)

(5). Zander, David A., and Wendy RK Smoker. Imaging of ectopic thyroid tissue and

thyroglossal duct cysts. Radiographics 34.1 (2014): 37-50.

(6) Chapman, Molly C., et al. Congenital oral masses: an anatomic approach to diagnosis. Radiographics 39.4 (2019): 1143-1160.

(7). YAMAUCHI, MIKA, et al. A case of ectopic thyroid in lateral neck associated with Graves' disease. Endocrine journal 46.5 (1999): 731-734.

(8). Kumar, Rakesh, et al. Ectopic goiter masquerading as submandibulares gland swelling: a case report and review of the literature. Clinical nuclear medicine 26.4 (2001): 306-309.

(9). Helidonis, lE, et al. Ectopic thyroid gland in the submandibular region. The Journal of Laryngology & Otology 94.2 (1980): 219-224.

(10). Byrd, Michael C., Lester DR Thompson, and Jacqueline A. Wieneke. Intratracheal ectopic thyroid tissue: a case report and literature review. Ear, nose & throat journal 82.7(2003): 514-519.

 

IMAGENS


Figura 1: Imagens ultrassonográficas das formações nodulares arredondadas e isoecogênicas na base da língua (setas rosas), com fluxo periférico ao Doppler

 

 


Figura 2: Linfonodos aumentados adjacentes à tireoide ectópica (setas azuis).

 

 


Figura 3: Diferentes cortes da tomografia computadorizada evidenciando formação lobulada no assoalho da cavidade oral (setas rosas), compatível com glândula tireoide ectópica.

 

 


Figura 4: Reconstrução 3D evidenciando posição da tireoide ectópica (setas rosas) na linha média, próxima ao osso hioide (setas azuis).

 

 


Figura 5: Cortes sagitais nas sequências ponderadas em T1 e T2 da ressonância magnética destacando o tecido tireoidiano ectópico (setas rosas) com isossinal ao tecido muscular em T1 e discreto hipersinal em T2.

Artículo recibido en sábado, 9 de noviembre de 2024

Artículo aceptado el jueves, 30 de enero de 2025

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