Kelly Ribeiro Neves; André Domingues Campos; Luiz Felipe Giesta; Thiago Viecili Azambuja
DOI: 10.5935/2965-1980.2024v3e20240035
HISTÓRICO CLÍNICO
Paciente do sexo masculino, 63 anos, pintor, ex-tabagista (25 anos-maço), hipertenso, com queixa de dispneia aos moderados esforços e histórico de repetidas infecções respiratórias. Exame físico e laboratoriais sem alteração.
ACHADOS RADIOLÓGICOS
Na chegada, a radiografia torácica (Figura 1) evidenciou redução do volume pulmonar direito, opacidades nos lobos superior e inferior e atelectasia do lobo médio. O estudo tomográfico (Figuras 2A-B) mostrou lesões lobuladas na traqueia e brônquio principal direito, conteúdo amorfo no brônquio principal, desvio mediastinal ipsilateral e obstrução do brônquio lobar superior direito. Em seguida, foi realizada broncofibroscopia com biópsia das lesões traqueais, que revelou carcinoma escamoso in situ. No mês seguinte, a biópsia de novas lesões traqueais e do brônquio principal direito apresentou evolução para carcinoma escamoso moderadamente diferenciado. Dois meses após, foi realizada nova tomografia (Figura 3A-B), que evidenciou a ressecção das lesões traqueais e lesões remanescentes no brônquio principal distal. O controle tomográfico em 4 meses (Figura 4A-B) demonstrou novas lesões polipoides na traqueia e brônquio intermediário. No mês subsequente, foi realizada uma última broncofibroscopia que identificou carcinoma escamoso polipoide ulcerado, sugestivo de progressão da doença.
DISCUSSÃO
O carcinoma polipoide traqueal é uma forma rara e agressiva de neoplasia que se desenvolve no revestimento da traqueia, que representa menos de 0,1% de todos os cânceres respiratórios primários [1]. Este tipo de tumor é caracterizado pelo crescimento de pólipos malignos que podem obstruir parcial ou totalmente a via aérea, resultando em sintomas como tosse persistente, dispneia, estridor e, ocasionalmente, hemoptise [2,4]. Devido à sua apresentação clínica inespecífica e rara incidência, o diagnóstico muitas vezes é tardio, o que pode comprometer o prognóstico do paciente [3]. O carcinoma de células escamosas é o segundo subtipo mais comum de carcinoma broncogênico (aproximadamente 30–40% de todos os casos) [5]. A exposição a agentes tóxicos (por exemplo, níquel) aumenta o risco de desenvolver carcinoma de células escamosas [5]. Há um risco aumentado de desenvolver câncer de pulmão, proporcional ao número de cigarros fumados por dia [6]. O paciente do presente estudo tem como fatores de risco tanto o tabagismo, como a exposição a substâncias químicas na sua rotina ocupacional. A avaliação radiológica é crucial no diagnóstico, que muitas vezes é tardio, o que pode influenciar no prognóstico do paciente. Técnicas como a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) são essenciais para a visualização detalhada do tumor, o que permite a avaliação da extensão local, a identificação de características morfológicas específicas e o planejamento terapêutico adequado [2,4]. Além disso, a broncoscopia é fundamental para a confirmação diagnóstica por meio de biópsia, bem como para intervenções terapêuticas, como a desobstrução das vias aéreas e a colocação de stents [1].
DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS
Hamartoma endobrônquico;
Fibroma endobrônquico;
Tumor carcinoide brônquico;
Metástases endobrônquicas.
O QUE APRENDI COM O CASO?
A hipótese radiológica de carcinoma deve ser sempre suspeitada no diagnóstico diferencial das lesões polipoides da árvore brônquica. O acompanhamento clínico-radiológico dos pacientes com carcinoma polipoide traqueal faz-se importante pelo risco de progressão da doença, ainda que inicialmente tenha comportamento indolente.
REFERÊNCIAS
1 - Honings, J, Gaissert, HA, Weinberg, AC, Mark, EJ, Wright, CD, Wain JC, Mathisen DJ. Prognostic value of pathologic characteristics and resection margins in tracheal adenoid cystic carcinoma. Annals of Thoracic Surgery2009; 87(1):55-61.
2 - Webb, WR, Müller, NL. Thoracic Imaging: Pulmonary and Cardiovascular Radiology. Lippincott Williams & Wilkins; 2008.
3 - Grillo, HC. Management of tracheal tumors. CHEST Journal2002; 91(4):299-308.
4 - Pollefliet, C, Thomas, J, Marron, A, & De Wever, W. Imaging of primary tracheal tumors: a pictorial review. Insights into Imaging2012; 3(6): 619-629.
5 - Sharma S, Maycher B, Tsuyuki S. Lung cancer, non–small cell. Disponível em: www.emedicine.com/radio/topic406.htm. Accessed January 2003. 6 - Morabia A, Wynder EL. Cigarette smoking and lung cancer cell types. Cancer1991; 68:2074-20.
IMAGENS
Artículo recibido en miércoles, 6 de noviembre de 2024
Artículo aceptado el martes, 10 de diciembre de 2024